Tratadores dedicam cuidados e atenção aos animais e pedem respeito por trabalho desenvolvido
29/03/2017
Nas primeiras horas do dia a movimentação na cozinha do hospital veterinário serve como prenúncio para o andamento das atividades no Parque Ecológico Cidade da Criança. Os tratadores preparam as bandejas de alimentação para os 198 indivíduos silvestres que residem no zoológico do local, sem contar os domésticos.
Com os caixotes nos ombros eles carregam a carroceria do carro com o cardápio da manhã, baldes de frutas e legumes, capim fresco, feno, quilos de carne crua e sacos de grãos e ração. Poucos conhecem a rotina de trabalho intenso para enviar a alimentação de todos os animais até às 10 horas.
O trabalho começa na cozinha do hospital veterinário, o preparo dos alimentos é realizado com cuidado e atenção pelos tratadores concursados responsáveis exclusivamente pela alimentação do plantel do zoológico. O local é lavado e esterilizado todos os dias, os funcionários usam luvas e toucas para proteger o alimento.
A água corrente e as mãos habilidosas da tratadora Gerlane Aparecida Silva cortam o mamão em pequenos pedaços e os olhos se atentam para o tamanho das fatias. “Preciso ter bastante cuidado para enviar a comida, pensando no tamanho do bico e das patas para o animal conseguir se alimentar”, conta.
“Gê”, como é conhecida pelos amigos, dedica atenção e carinho no preparo de cada bandeja. “Eu preparo todas as bandejas com amor, mas tenho um zelo maior pelo bugio ‘Remi’, eu corto as frutas em formato de estrela, envio pra ele o maior número de tipos de fruta possível, eu sinto prazer em realizar esse trabalho por ele”, revela.
Por dia, a cozinha do hospital veterinário prepara mais de 40 bandejas de alimentação, cada animal segue uma dieta balanceada, elaborada para suprir as necessidades físicas de cada um. “No verão oferecemos alimentos mais leves e até mesmo ‘sorvetes’ para eles se refrescarem, já no inverno optamos por nutrientes mais gordurosos como, por exemplo, sementes”, explica a bióloga Isabela Alves de Lima.
“Os tratadores passam mais tempo próximos aos animais, por isso sabem dizer se algum animal enjoou da ração, por exemplo, se está comendo mais ou menos, qualquer alteração é passada para a equipe técnica que realiza a alteração na dieta”, completa a bióloga.
Além da bióloga os animais recebem atendimento especializado de uma médica veterinária e dos tratadores concursados. “Ao final do expediente todos os tratadores escrevem um relatório sobre o comportamento dos animais que acompanham para documentar a rotina de cada um e para identificarmos possíveis anormalidades”, explica a bióloga.
A estudante de Ciências Biológicas Devlin Breda Boer fez um estágio de 72 horas, supervisionado pela bióloga do Parque Ecológico, ela acompanhou a rotina de trabalho e colaborou com as atividades desenvolvidas pela equipe do hospital veterinário.
“Todos os funcionários são unidos e se ajudam, a equipe trabalha em sintonia para realizar o melhor serviço para os animais, e o mais legal é que os técnicos, tanto a bióloga quanto a veterinária, estão abertos para ouvir as sugestões e observações dos tratadores. Fiquei impressionado com a cozinha do hospital e com a atenção dos tratadores”, diz Devlin.
Amor e profissionalismo
O trabalho dos tratadores não se resume a colocar a alimentação para os animais, eles são responsáveis também pela limpeza dos recintos. “O tanque grande do recinto do hipopótamo é esvaziado e limpo dia sim, dia não, para encher por completo demora cerca de 3 horas. O tanque pequeno é lavado diariamente, e demora em média 40 minutos para encher”, conta o tratador concursado Guilherme Alexandre de Andrade.
Diariamente o hipopótamo ‘Toiço’ come 10 kg de capim, 7 kg de ração e 40 kg de legumes e frutas. “Os comedouros são lavados todos os dias para mantermos os recintos limpos, trabalho com ele e com os outros animais do parque há 10 meses, todos são mansos comigo, nossa relação é a melhor possível”, conta Guilherme.
O estudante de biologia Carlos Renan Ribeiro da Silva decidiu realizar o concurso para tratador como uma experiência. “Gosto da área de zoologia, em especial das aves, trabalhar aqui é uma oportunidade de estar em contato com animais silvestres”, expõe.
“Às vezes, no meu horário de almoço, vou até o aviário para visitar os animais e fazer carinho no bugio ‘Remi’, como passo a maior parte do tempo no hospital veterinário fico com saudades deles”, acrescenta o tratador.
O tratador Dário das Dores Agostinho é formado em artes, mas encontrou no Parque Ecológico uma maneira de trabalhar com os animais. “Sempre me envolvi em questões ambientais, fiz um curso de técnico ambiental e hoje posso exercer o que estudei, além doa animais do zoológico existem os de vida livre que circulam por aqui, é muito legal”, revela.
Para manter todo o trabalho organizado a equipe segue um cronograma de serviço. “Acompanhamos o que cada um deve fazer e seguimos rigorosamente as tarefas diárias”, conta o tratador Eduardo Arcílio Julio Caldeira, que fez um curso de auxiliar de veterinário e trabalha na cozinha do hospital.
O hospital veterinário é supervisionado pela médica veterinária concursada, Érica Silva Pellosi. “A equipe desenvolve um trabalho conjunto, no hospital realizamos exames clínicos, tratamentos e diagnósticos de prevenção, além de exames de rotina para detectar se está tudo bem”, explica.
Como uma forma de protesto e para demostrar a união da equipe em prol dos animais, na manhã desta quarta-feira os funcionários posaram com uma faixa que diz: “Nós não maltratamos nossos animais. Exigimos respeito”. As acusações e denúncias não condizem com a dedicação de cada um dos colaboradores.